no seu caráter ambíguo, que deixa ao espectador decidir
sobre o seu significado."
(Theodor Adorno)
Marcel Duchamp (1887-1968) criou uma polêmica no campo da arte que perdura há quase um século, foi o responsável pelo conceito de ready made, que é o transporte de um elemento da vida cotidiana para o campo das artes e deste modo, tornando ele um objeto de arte.
Seu primeiero ready-mady é a conhecida obra intitulada "A Fonte" (numa alusão a obra homônima do artista neoclássico Dominique Ingres pintada em 1856) e assinada "R. Mutt" (fábrica que produziu o urinol). Foi colocada entre as obras a serem julgadas para um concurso de arte promovido nos Estados Unidos e rejeitada pelo júri, uma vez que, na avaliação deste, não havia nela nenhum sinal de labor artístico. De fato, trata-se de um urinol comum, branco e esmaltado, comprado numa loja de construção e assim mesmo enviado ao júri.
Em nossos dias, seu gesto iconoclasta, ainda polemiza e cria uma discussão acirrada entre aqueles que defendem uma obra de arte baseada em valores formais (habilidade técnica do artista, materiais tradicionais, etc.) e aqueles que defendem a arte como ideia, um conceito, em que a manifestação física da obra de arte pode ser provisória, com a valorização do processo criativo, que são as bases da arte conceitual (também conhecida como arte contemporânea).
As discussões sobre o caráter da obra de arte antecedem em muito as questões propostas pelo artistas conceituais. Platão já havia se referido a produção artista como aquela que imita o mundo sensível, que é a imitação do mundo das ideias, em outras palavras, de modo reducionista, ele teria dito que a obra de arte de seu tempo era cópia da cópia.
A delícia da arte está nesta característica provocadora que nos move a pensar, e por esta razão Joseph Kosuth (1945-) aproxime a arte da filosofia, ou até mais que isto, propondo a arte como substituta da filosofia em seu artigo "Arte após a filosofia" (1969) e segundo ele “O 'valor' de artistas particulares depois de Duchamp, pode ser medido de acordo com quanto questionaram a natureza da arte.”
O que é uma obra de arte? O que faz um artista? A arte está no objeto que o artista produz, ou na ideia que ele concebeu? A arte está em quem lê a obra ou quem determinou que determinado objeto é uma obra de arte? A arte precisa ter uma função ou ele pode apenas ser apenas arte? Ou ainda, ter a função de ser arte? "As Meninas"(1656), de Diego Velázquez (1599-1660),
é apenas uma demonstração da habilidade técnica do artista ou nos provoca sensações que merecem uma discussão mais aprofundada sobre as ideias do artista ao pintar a obra?
O rompimento com a arte dominante é fato constante na história da arte ocidental, e em geral promove uma renovação estética, fazendo surgir novos estilos, escolas e movimentos.
Por exemplo, a Secessão Vienense foi um movimento liderado por Gustav Klimt (1862-1918) e queria a separação radical da tradição acadêmica. Este movimento que se estendeu às artes decorativas se divide em duas partes: antes e pós-1900, onde antes tínhamos um forte caráter Art Nouveau e como artista Gustav Klimt, e depois temos com Koloman Moser (1868-1918) uma arte mais simétrica, formas geometrizadas e fontes (tipos) mais simples. Se observarmos o cartaz acima. criado por Moser, deixaríamos de considerar seu caráter artístico?
A arte instiga nossa imaginação, por isso uma vida não daria para compreender este vasto universo que é o da arte, como disse Michelangelo Buonarrotti (1475-1564) no fim de sua vida:
“Sempre tive uma esposa muito exigente na minha arte, e meus filhos são as minhas obras. (...) Lamento estar morrendo justamente quando estou aprendendo o alfabeto da minha profissão”.
E Claude Monet (1840-1926) afirmou:
“Todos discutem minha arte e fingem compreender, como se fosse necessário compreendê-la, quando é simplesmente necessário amar”.